25 de nov. de 2012

Serra do Ramalho

No centro-sul baiano, às margens do rio São Francisco, uma longa serra quebra a monotonia de uma paisagem aplainada.

Serra do Ramalho
São quilômetros e quilômetros de calcário esculpidos pacientemente pela ação implacável do tempo. O relevo arruinado, caracterizado por extensos campos de lapiás e recheado com dezenas de grutas são as maiores testemunhas desse fenômeno.

Localização

Entrada da Caverna da Boca da Lapa no Município de Feira da Mata/BA

A Serra do Ramalho está localizada na divisa dos estados de Minas e da Bahia, às margens do rio São Francisco, englobando os municípios de Carinhanha, Ramalho, Coribe e Feira da Mata. Até bem pouco tempo atrás, a região era praticamente desabitada e carente de vias de acesso. Contudo, na década de 70, um projeto de assentamento rural, criou 23 agrovilas. Originalmente cada uma possuía 250 casas, além de escola, mercado, posto médico e toda estrutura para abrigar as famílias dos colonos, que trabalhavam em áreas ao redor das vilas.


Atualmente resta pouco do projeto original. A grande parte dos habitantes dedica-se ao comércio e as áreas rurais (originalmente com 10 mil m2) foram agrupadas em propriedades maiores. A falta de incentivos governamentais aliado às duras condições climáticas da região, fez com que a maioria das fazendas se tornassem improdutivas. E, o que deveria ser uma região eminentemente voltada para a agricultura, tornou-se mais um exemplo de um projeto de assentamento mal sucedido.

Histórico das explorações


Formação rochosa em stalactite na Caverna da Boca da Lapa - Município de Feira da Mata
O potencial espeleológico da Serra do Ramalho foi revelado, quase que acidentalmente, em 1990. Na época, parte de uma equipe que realizava explorações no norte de Minas (Montalvânia) resolveu conferir algumas "dicas" no município vizinho de Feira da Mata (Bahia). Os moradores desta região guardam uma íntima relação com as cavernas. Seja para retirada de água, como local de lazer ou através das lendas que se perpetuam durante gerações. Uma delas conta que um padre entrou numa gruta, de onde sai um rio, e nunca mais voltou. E todos que tentaram encontrá-lo acabaram se deparando com um bicho peludo que mora dentro d'água. O que não se sabe é se o padre transformou-se no bicho ou foi devorado por ele.

Apesar de não desvendar o mistério, acabamos descobrindo uma fantástica caverna, a Boca da Lapa, com 3 km de extensão. Além disso, estavam abertas as portas para as explorações de uma nova região cárstica: a Serra do Ramalho.

Voltamos à região em 92. Nessa primeira fase buscávamos ampliar as áreas prospectadas deixando a topografia e documentação para um segundo momento. Seguindo à risca essa premissa, descobrimos dezenas de cavidades, destacando-se a Gruna do Engrunado (4 km) à Gruna do Anjo.

Depois disso, a região caiu no esquecimento, voltando a ser explorada somente em 1998. Nesta nova investida, as explorações voltaram-se para a porção mais oriental da Serra, junto da planície do São Francisco, onde foram surpreendidas pela beleza do carste e a quantidade de cavernas. A maioria delas seguem um padrão bem típico, sendo constituídas de ressurgências temporárias que se abrem na base do maciço. Neste ano, em duas expedições, foram explorados 9 km na Gruna da Água Clara, além de surgirem informações sobre dezenas de outras cavidades.

Com esse cenário altamente promissor, foi organizada a Expedição Bahia '99, em conjunto com espeleólogos franceses do GSBM (Groupe Spéléo Bagnols Marcoule). O objetivo era concluir o mapeamento das grutas já conhecidas, principalmente a Água Clara e verificar novas cavidades. Em 15 dias de atividades foram descobertas 16 cavidades e mapeados mais de 23 km, destacando-se 5 km na Água Clara e 8 km no Boqueirão (descoberta durante a expedição). Estudos biológicos revelaram uma fauna surpreendente, destacando-se a descobertos de novas espécies de peixes e isópodes troglóbios. Também foi encontrado um espetacular sítio paleontológico que abriga pelo menos três exemplares de preguiças gigantes fossilizadas.

Atualmente já são conhecidos mais de 50 km de cavernas na Serra do Ramalho, existindo ainda extensas áreas totalmente inexploradas. As próximas expedições devem concentrar-se na continuidade dos trabalhos das grutas parcialmente mapeadas (Boqueirão e Peixes, por exemplo), além de iniciar estudos geológicos que tentem explicar os processos cársticos que atuaram na região.

Principais grutas da região

Serra na divisa de Feira da Mata e Cocos

Boqueirão (15.170 m): a gruta é formada por uma rede de galerias vadosas, sendo a sua entrada principal uma ressurgência temporária de grandes proporções. Outra característica marcante do sistema são as galerias fósseis, situadas em níveis superiores e que, aparentemente, tiveram uma gênese independente do atual sistema de drenagem. O potencial da caverna supera facilmente a marca de 10 km.

Gruna da Água Clara (13.880 m): Constituída basicamente de uma galeria principal que se estende por mais de 7 km. Ao longo do seu traçado sinuoso podem-se observar seções que variam desde uma elipse predominantemente horizontal até amplas galerias de seção abobadada e com mais de 20 metros de altura. Na época das chuvas a gruta é inundada sendo transportado para o seu interior grande quantidade de matéria orgânica. Troncos com mais de 10 metros de comprimento e 60 cm de diâmetro são encontrados nos seus condutos, atestando a intensidade desse fenômeno.

Lapa do Peixe (7.020 m): a drenagem temporária, que percorre boa parte da Gruna da Água Clara e Gruna dos Índios, também é responsável pela formação da Lapa do Peixe. A gruta pode ser dividida em duas áreas distintas, representadas por uma galeria principal de grande dimensão (10 metros de largura e 3 de altura) e várias ramificações. Entre elas existe uma entrada que serve de sumidouro para a atual drenagem, que é conhecida localmente como Gruna da Água Escura. As duas áreas são conectadas por uma galeria secundária e o trecho a montante encontra-se livre do atual curso d'água que percorre a gruta nos meses de chuva. Foram encontrados nessa cavidade pelo menos três exemplares de preguiça gigante em excelente estado de conservação. Várias galerias inexploradas.

Gruna do Enfurnado (5.840 m): A gruta possui duas grandes galerias principais, suas dimensões são por vezes bastante expressivas, não e raro encontrar em alguns pontos mais de 30 m de altura e ou 20m na largura. A gruta tambem apresenta dois níveis distintos, sendo que o mais baixo é perrcorido por um pequeno riacho.

Gruna da Lagoa do Meio (4.200 m): Esta cavidade ainda encontra-se em exploração sendo suas possibilidades de expansão bastante promissoras. Seus principais destaques são o Salão do Ar Invertido, em aréa é um dos maiores salões brasileiros. Importante citar a presença de duas drenagens distintas dentro da caverna, ao qual convergem em uma galeria onde ainda não foi finalizada a exploração.

Gruna do Boca (4.000 m): A gruta desenvolve-se básicamente por um único conduto, seus primeiros 2000m são caracterizados por diversos tetos baixos sendo que ao final dos mesmos a galeria assume dimensões mais confortáveis, no entanto denota-se uma crônica falta de ar, o que dificulta muito sua permanencia. O final da gruta é demarcado pelo encontro com um riacho subtêrraneo que termina em sifão.

Gruna do Engrunado (3.980 m): sua característica básica são as passagens amplas que se desenvolvem em um traçado sinuoso. Em vários locais existem duas galerias distintas e paralelas. Em outros, elas se unem num único conduto com níveis diferentes ou se sobrepõem. Parte da galeria encontra-se esporadicamente obstruída por sedimento ou espeleotemas.


Lago na entrada da Caverna da Boca da Lapa - Feira da Mata
Boca da Lapa (3.050 m): espetacular ressurgência localizada próximo do povoado de Ramalho (Feira da Mata). Galeria praticamente única e com dimensões uniformes ao longo de todo o seu trajeto (6 metros de largura e 10 de altura). Termina num sifão igualmente esplêndido.

Gruna do Pedro Cassiano (2.660 m): Sistema de córregos anastomosados permanentes. Foram encontrados até o momento 3 córregos que foram explorados e mapeados até os seus sifões. A gruta é utilizada pela população local para retirar água. Podem existir galerias superiores inexploradas.

Gruna Baiana (2.260 m)

Gruna do João Gravatá (1.780 m): local de coleta de água na fazenda de mesmo nome. A galeria principal se desenvolve em um traçado sinuoso até desembocar na parte superior da serra.

Com informações do Grupo Bambuí

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