No vaivém dos políticos em busca de poder, um ex-vereador de Mucuri,
cidade localizada no Sul da Bahia, resolveu trocar de domicílio
eleitoral para conseguir se eleger em Minas Gerais. O estratagema deu
certo e o ex-parlamentar baiano Agripino Botelho Barreto (PR), de 48
anos, é um dos 853 prefeitos eleitos no estado este ano para um mandato
de quatro anos. Em Serra dos Aimorés, no Nordeste de Minas, Barreto
conseguiu passar pelo crivo de 2.155 eleitores, de um total de 5.928
aptos a votar, e vai comandar um município com população de 8.412
habitantes, voltada, sobretudo, para a produção agrícola.
O exílio voluntário de Barreto aconteceu no meio do ano passado, quando
ele renunciou ao cargo de vereador da Câmara Municipal de Mucuri, onde
ocupou também o cargo de presidente. Ele deixou para trás não só dois
mandatos consecutivos, a partir de 2005, mas também duas ações contra
ele na Justiça comum. A primeira relacionada à contratação irregular de
nove assessores parlamentares, cujos salários Botelho embolsava, por
meio de uma procuração assinada pelos próprios servidores nomeados por
ele.
Wilken Fontes de Albuquerque, um dos nomeados por Barreto para um cargo
em comissão na Câmara – cujo nome consta na ação civil pública por ato
de improbidade administrativa proposta pelo Ministério Público da Bahia
–, declarou que assinou a procuração achando tratar-se de um documento
para que pudesse receber benefícios do Programa Bolsa-Família. O
documento com a ação não registra o valor total que o então vereador
recebia por meio desse expediente. Entretanto, o contracheque de Wilken
está anexado ao processo com valor destacado de R$ 1.920,20 mensais. De
quebra, por meio de um vereador amigo, ele nomeou a mãe, Neide Botelho
Barreto, e a mulher, Karine Almeida Aguiar, como funcionárias do
gabinete.
Barreto ainda responde na Justiça a ação por formação de quadrilha para
recebimento de propina envolvendo a legalização de um loteamento em
Itabatã, distrito de Mucuri, por meio de projeto de lei aprovado no
Legislativo municipal. O então vereador e hoje prefeito eleito de Serra
dos Aimorés teve a prisão preventiva decretada, em dezembro do ano
passado, pelo juiz Leonardo Santos Vieira Coelho, da comarca de Mucuri.
Outros seis vereadores locais também tiveram prisões preventivas
decretadas.
O prefeito eleito também é considerado ficha-suja
pelo Tribunal de Contas da Bahia. A prestação de contas da Câmara
Municipal de Mucuri relativa a 2010, quando ele era presidente da Casa,
foi rejeitada pelo tribunal. Os conselheiros apontaram irregularidades
na contratação de servidores para o Legislativo, relatórios de controle
interno deficientes e gastos excessivos, que somam quase R$ 500 mil.
O
registro da candidatura de Barreto poderá ser cassado pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), impossibilitando-o de assumir o cargo de
prefeito em janeiro. Durante a campanha, o registro foi indeferido em
primeira instância, na comarca de Nanuque, cuja jurisdição abrange Serra
dos Aimorés. A sentença no foro eleitoral local foi confirmada pelo
Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG). Barreto só conseguiu continuar em
campanha graças à concessão de medida cautelar pelo TSE. Agora, ele
aguarda o julgamento do mérito. Se perder, a estratégia montada no ano
passado de mudar de domicilio eleitoral terá ido por água abaixo.
Outro lado
O prefeito eleito de Serra dos Aimorés, Agripino Botelho Barreto,
chamou de mentiras as denúncias contra ele. “Não existe isso não. Não
tenho conhecimento”, esquivou-se, ao ser questionado sobre a contratação
irregular de funcionários para o gabinete dele quando vereador em
Mucuri. Ele negou também que tenha recebido propina, junto com outros
seis vereadores, para aprovar o loteamento em Itabatã. A prisão
preventiva de Barreto chegou a ser decretada por um juiz da comarca de
Mucuri. “Não tenho vínculo com isso”, rechaçou.
Sobre o fato de
ser apontado como ficha-suja pelo Tribunal de Contas da Bahia, Barreto
alegou: “A história não é bem assim”. Ele lembrou que está se defendendo
na Justiça e garantiu não ter havido qualquer ilícito em sua gestão na
Presidência da Câmara. Já em relação ao fato de ter deixado a Bahia para
se fixar em Minas, ele desconversou. “Moro em Serra dos Aimorés há
quarenta anos”, disse. Quanto a ter sido vereador em Mucuri, alegou que o
pai tem uma propriedade próxima à cidade.
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